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História das Cidades Mineiras

Primeiras descobertas de ouro

Fato bastante conhecido, a história das mais antigas cidades mineiras está associada, direta ou indiretamente, à mineração. A descoberta de ouro em Minas Gerais, no final do século XVII, fez com que o estado tivesse um processo de ocupação muito peculiar.

Na maioria dos demais estados brasileiros, a ocupação se deu sempre do litoral em direção ao interior, ou ao longo das margens dos grandes rios. Esse último modelo de ocupação não ocorreu de forma significativa em Minas Gerais. As primeiras expedições ao território mineiro, ainda antes do ciclo do ouro, se deram através do rio Pardo, do rio Jequitinhonha e do rio Doce, partindo, portanto, dos litorais da Bahia e do Espírito Santo, caminhos bastante naturais. Porém, não chegaram a estabelecer importantes núcleos de povoamento, em razão das grandes distâncias, dos poucos atrativos e da presença de tribos indígenas muito hostis. Curiosamente, os sertões do rio São Francisco, em Minas Gerais, seriam povoados, não através do percurso do rio a partir de sua foz, no Nordeste, mas através dos caminhos abertos a partir de São Paulo.

A colonização efetiva de Minas Gerais esteve totalmente vinculada à descoberta do ouro em pontos específicos do território. Tais descobertas criaram focos pontuais de atração e ocupação, que daí passaram a irradiar às regiões vizinhas. Além desses focos de irradiação, o processo de povoamento também aconteceu em função dos difíceis caminhos que precisaram ser abertos entre São Paulo e Rio de Janeiro e os pontos de descoberta de ouro. Ao longo dos caminhos, que exigiam semanas ou até meses para serem percorridos, tornou-se necessária a criação de pontos de descanso e abastecimento, que deram origem a várias cidades.

Coube aos bandeirantes as primeiras transposições dos bloqueios que separam o litoral de São Paulo e do Rio de Janeiro e o interior mineiro, seguindo os caminhos já abertos pelos índios e as lendas de pedras e metais brilhantes por eles contadas.

Uma das histórias mais conhecidas falava da presença de uma serra conhecida como Sabarabuçu, rica em pedras preciosas e ouro. Segundo o historiador sabarense Zoroastro Viana Passos, as primeiras expedições que passaram pela região de Sabará teriam ocorrido em 1550 ou até antes. Muito tempo se passaria, no entanto, até que as riquezas fossem enfim descobertas.

A expedição organizada pelo famoso bandeirante Fernão Dias Paes Leme (em cuja homenagem foi batizada a rodovia que liga atualmente São Paulo a Belo Horizonte) partiu de São Paulo em 1674 e tinha como finalidade alcançar Sabarabuçu. Ao atravessar o rio Grande, ele fundou o que viria a ser chamado “o primeiro povoado de Minas Gerais”, que daria origem à atual cidade de Ibituruna. Fernão Dias, depois de percorrer vastas áreas da região central de Minas ao longo de sete anos, morreu de malária em 1681, nas proximidades de Caeté, cidade vizinha a Sabará. Seu genro, Manoel de Borba Gato, continuaria a busca pelo ouro e finalmente o encontraria poucos anos depois.

Fernão Dias foi responsável pela criação de locais de pouso ao longo do extenso caminho percorrido por sua bandeira, o que acabou permitindo que as riquezas enfim fossem descobertas por aqueles que o sucederam. Há controvérsias sobre ter sido de fato Borba Gato o primeiro descobridor de ouro em Sabará, uma vez que os bandeirantes procuraram manter as descobertas em sigilo pelo maior tempo possível. De nada valia, porém, manter-se em segredo a existência de tanto ouro e, assim que a informação foi revelada, a região atraiu enormes levas de aventureiros. Sabará logo se tornaria o arraial mais populoso de Minas Gerais.

Algum tempo depois, aventureiros que andavam pelo sertão, algumas dezenas de quilômetros a sudeste de Sabará, encontraram no chamado córrego do Tripuí um metal escuro e muito brilhante, e não conseguiram identificar do que se tratava. Retornaram, então, à vila de Taubaté, em São Paulo, de onde provinham. Taubaté, nessa época, já era um importante entreposto comercial com ligação para São Paulo e Paraty, e ponto de partida de várias expedições para o sul de Minas e para Sabará.

O exame de algumas amostras daquele metal escuro acabou revelando que se tratava de uma mistura de óxido de ferro com ouro. Ciente da existência de enorme quantidade desse metal no córrego do Tripuí, trataram de tentar encontrá-lo novamente, o que demorou alguns anos para acontecer. Coube, primeiramente, a Salvador Fernandes de Mendonça e Miguel Garcia da Cunha encontrar o famoso ouro escuro às margens do ribeirão do Carmo, dando origem à cidade de Mariana. Finalmente, em 1698, o bandeirante Antônio Dias de Oliveira encontrou o famoso córrego do Tripuí e iniciou a formação do povoado de Vila Rica, atual Ouro Preto, que rapidamente suplantaria em importância a exploração de ouro de Sabará.

Antônio Dias, por volta de 1700, abandonaria a região de Vila Rica e, seis anos depois, passaria a fazer novas explorações ao longo dos rios Doce e Piracicaba. Às margens desse último rio, fundaria um povoado que daria origem à cidade que hoje leva seu nome, povoação primitiva de toda a região atualmente conhecida como Vale do Aço.

A busca pelo ouro prosseguiu. Em 1702, foi descoberta uma grande quantidade nas margens do rio Santo Antônio, dando origem à cidade de Conceição do Mato Dentro, e nas cabeceiras do rio Jequitinhonha e seus afluentes, cerca de 100 quilômetros ao norte de Vila Rica, dando origem à Vila do Príncipe, atual cidade do Serro. Em 1704, novas descobertas na região da atual cidade de Santa Bárbara. Cinco anos depois, outra grande descoberta ocorreu em Pitangui, 115 quilômetros a oeste de Sabará.


Estradas reais

Como consequência do afluxo cada vez maior de pessoas para a região das minas, foram criadas as estradas reais, assim chamadas em razão de sua natureza oficial e exclusividade de utilização. O tráfego de ouro e de outros produtos era feito, obrigatoriamente, por esses caminhos, para que a Coroa Portuguesa pudesse fazer a cobrança dos impostos. A abertura de outras vias, por isso, se constituía em crime de lesa-majestade, razão pela qual o termo “descaminho” acabou se tornando sinônimo de contrabando.

A mais importante estrada real, no período inicial, foi o chamado Caminho Geral do Sertão, conhecido depois como Caminho Velho, que tem origem numa antiga trilha indígena. Começava na cidade de Paraty, no atual estado do Rio de Janeiro, e subia a serra até Taubaté. Daí, rumava ao norte, atravessando a serra da Mantiqueira pela Garganta do Embaú e prosseguindo pelos sertões por centenas de quilômetros até alcançar Vila Rica. O caminho deu origem a vários povoados que se tornaram cidades, como Passa Quatro, Pouso Alto, Caxambu, Baependi, Encruzilhada (Cruzília), Carrancas, São José Del Rei (Tiradentes), São João Del Rei, Lagoa Dourada, Entre Rios de Minas e Ouro Branco.

A Garganta do Embaú é um ponto notável na serra da Mantiqueira, por ser seu ponto mais baixo e visível a dezenas de quilômetros. Localiza-se na divisa entre a cidade paulista de Cruzeiro e a cidade mineira de Passa Quatro.

A passagem do Caminho Velho por Caxambu fez com que as famosas águas minerais fossem descobertas ainda no século XVIII, correndo a fama de seus poderes curativos milagrosos e dando origem ao atual Circuito das Águas, formado também pelas cidades de São Lourenço, Cambuquira e Lambari.

O Caminho Velho tornou-se a principal via de ligação entre a cidade do Rio de Janeiro e o sertão das Minas Gerais, cujo percurso demandava de dois a três meses de viagem. No ano de 1699, a Coroa Portuguesa, preocupada com o contrabando da produção aurífera e com o risco de ataque de corsários no trecho marítimo entre Paraty e o Rio de Janeiro, mandou construir um caminho que ligasse diretamente o Rio à região mineradora. Surgia daí o Caminho Novo.

A construção do Caminho Novo ficou a cargo do bandeirante Garcia Rodrigues Pais, filho de Fernão Dias, que estava estabelecido como sesmeiro, com uma roça às margens do rio Paraibuna e outra em Borda do Campo (atual Barbacena). O sertanista conseguiu concluir a picada de pedestres em 1700 e concluiu totalmente a construção do caminho em 1707.

O percurso do Caminho Novo seguia por via marítima até o fundo da baía de Guanabara, percorria 12 quilômetros de rios e seguia por terra, através da atual populosa região da Baixada Fluminense. Subia então a serra do Tinguá até a atual cidade de Paraíba do Sul, um trecho de difícil acesso que depois seria substituído por um desvio que passava pela atual cidade fluminense de Petrópolis, mais próximo do atual traçado da BR-040, que liga Rio de Janeiro a Belo Horizonte.

Após cruzar o rio Paraíba do Sul, o caminho seguia os sertões em direção ao norte, adentrando na região mineira, passando por Santo Antônio do Paraibuna (Juiz de Fora) e Borda do Campo, e chegando em Ouro Branco, no sopé da chamada Serra do Deus-Me-Livre, onde encontrava o Caminho Velho e seguia até Vila Rica. Pelo Caminho Novo era possível alcançar a região mineradora em apenas 25 dias.

A abertura do Caminho Novo canalizou para o Rio de Janeiro a maior parte dos lucros do comércio com a região mineira, e o porto da cidade tornou-se o mais importante porto da colônia em volume de comércio exterior, superando importantes portos como Santos, Paraty e Salvador. Tornou-se ainda ponto de passagem obrigatório das levas de imigrantes portugueses atraídos pelo ouro e dos lotes de mão-de-obra negra destinados ao trabalho nas minas. Tal prosperidade iria transformar o Rio de Janeiro na sede administrativa do Vice-Reino do Brasil, meio século depois.

As buscas por novas riquezas em Minas Gerais continuaram. Em 1720, foi descoberto ouro na região da atual cidade de Itabira. Por volta de 1727, bandeirantes chefiados por Sebastião Leme do Prado encontraram ouro e diamantes 100 quilômetros a nordeste da Vila do Príncipe, formando uma pequena povoação que daria origem à atual cidade de Minas Novas. Leme do Prado seria homenageado com o nome de uma cidade vizinha, mas formada muito tempo depois.

Ainda na esteira da extração do ouro na Vila do Príncipe, atual cidade do Serro, foi criado, em uma região próxima, um arraial às margens do rio Tejuco, na perspectiva de novas descobertas. As esperanças não se confirmaram, e o arraial não prosperou durante seus primeiros anos. Tudo mudaria em 1729, quando Bernardo da Fonseca Lobo encontrou as primeiras pedras de diamante no local, atraindo levas de aventureiros e dando origem à atual cidade de Diamantina.

A estrada real que seguia de Vila Rica em direção ao norte passaria então a ser conhecida como Caminho dos Diamantes, e passava por Mariana, Conceição do Mato Dentro, Vila do Príncipe e chegava até o Arraial do Tejuco (Diamantina).

Mais de cinquenta anos depois, seriam encontrados diamantes 100 quilômetros ao norte do Arraial do Tejuco, dando origem à atual cidade de Grão Mogol.


A caminho de Goiás

Um episódio que expandiu significativamente a área de extração de ouro foi a Guerra dos Emboabas, ocorrida em 1708. Os bandeirantes paulistas, os primeiros a descobrir ouro em Minas Gerais, se consideravam os únicos detentores do direito de explorá-lo. Porém, não havia regras definidas e eles passaram a enfrentar a concorrência de um número cada vez maior de pessoas vindas de outras regiões do Brasil e de Portugal. Na prática, cada um passou a explorar a área que bem entendesse.

A tensão se elevou até se transformar em uma sangrenta batalha, que acabou com a derrota dos paulistas. Tal fato acabou levando os bandeirantes a buscarem novas áreas ricas em metais preciosos em regiões ainda mais distantes. Alguns anos depois, acabaram descobrindo ouro nas longínquas regiões dos atuais estados de Goiás e Mato Grosso, episódio fundamental para a povoação de vasta região do oeste de Minas Gerais.

As primeiras descobertas de ouro no sertão de Goiás ocorreram em 1722. As novas áreas de extração levaram à criação de mais uma importante estrada real, a Picada de Goiás, que ligava a região de São João Del Rei à nova região de mineração. Foi aberta por Francisco Rodrigues Gondim e Manuel Rodrigues Gondim, no ano de 1736. O caminho deu origem ou estimulou o desenvolvimento de cidades como Oliveira, Carmo da Mata, Itapecerica, Formiga, Arcos, Iguatama, Bambuí, Patrocínio, Patos de Minas, Coromandel e Paracatu. Em território goiano, passava por Pirenópolis e Vila Boa (atual cidade histórica de Goiás, também conhecida como Goiás Velho) e chegava até Cuiabá. Algumas cidades ao longo do caminho, como Itapecerica e Paracatu, também foram impulsionadas por descobertas de ouro em seus próprios territórios.

Vale destacar que há outras referências a caminhos para as novas minas de Goiás e, segundo o geógrafo Leonardo Alves, “no período colonial, todos os caminhos que ligavam Minas a Goiás eram conhecidos como Picada de Goiás”. Um exemplo é o caminho que partia de Pitangui. A vila de Pitangui já era ligada a Sabará por um caminho que passava por Curral del Rei (onde seria construída Belo Horizonte), Betim, Mateus Leme e Patafufo (Pará de Minas). O caminho foi então estendido, passando por Dores do Indaiá, São Francisco das Chagas (Rio Paranaíba), Arraial Novo (Carmo do Paranaíba) e encontrava a outra Picada de Goiás em Patos de Minas.


Triângulo Mineiro

O povoamento da região do Triângulo Mineiro, inicialmente conhecida como Sertão da Farinha Podre, tem uma história bastante interessante e peculiar. No ano de 1720, quando a capitania de Minas Gerais foi desmembrada da então chamada Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, a região do atual Triângulo Mineiro permaneceu vinculada a São Paulo.

No ano de 1725, foi aberto um caminho que partia de São Paulo e se destinava a alcançar as regiões auríferas de Goiás, que ficou conhecido como Caminho dos Goiases, também chamado de Caminho do Anhanguera, por ter sido aberto pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera. Não por acaso, a importante rodovia que liga a cidade de São Paulo ao Triângulo Mineiro é conhecida atualmente como Rodovia Anhanguera.

A passagem do Caminho do Anhanguera pela região do Triângulo Mineiro, a princípio, não levou ao crescimento espontâneo de povoações ao longo do percurso, nos moldes do que ocorreu em outras regiões. Na verdade, o que se verificou foi a criação dos chamados aldeamentos, um processo de controle e aprisionamento de índios nativos, que foram reunidos e submetidos a trabalho compulsório, com o objetivo de garantir a segurança da estrada.

No ano de 1744, a importância das minas de ouro de Goiás e do Mato Grosso levou essa imensa região a se desmembrar de São Paulo, criando uma nova capitania, com o nome de Goiás (ou Goyaz, conforme grafia da época). O Sertão da Farinha Podre, então, deixa de pertencer a São Paulo e passa a pertencer a Goiás.

Dividido, assim, entre as vinculações aos paulistas e aos goianos, o Triângulo finalmente se tornaria mineiro graças a outro episódio marcante: a descoberta de ouro e diamante às margens do rio Araguari, próximo à atual cidade de Araxá, dando origem ao arraial do Desemboque.

Com a descoberta das riquezas, Desemboque prosperou, e atraiu levas de aventureiros das regiões de Pitangui e São João Del Rei, fazendo com que a ocupação dessa região, então pertencente a Goiás, ocorresse majoritariamente a partir de caminhos e pessoas provenientes de Minas Gerais.

Com o declínio da mineração em Desemboque, houve o esvaziamento gradativo da povoação, e seus habitantes procuraram se dispersar, em busca de novas riquezas ou de outras terras disponíveis para a agricultura e a criação de gado. Assim, foram formados novos povoados, dando origem a cidades como Uberaba, Sacramento, Prata, Ituiutaba, entre outras. A povoação de vastas áreas do Sertão da Farinha Podre por parte de migrantes de origem mineira suscitou intensos debates políticos que culminariam, no início do século seguinte, na transferência de toda a região para Minas Gerais.

A cidade de Uberlândia, atualmente a mais populosa do Triângulo Mineiro e a segunda mais populosa do estado, surgiria um pouco mais tarde, inicialmente vinculada a Uberaba, com o nome de São Pedro de Uberabinha. O arraial do Desemboque, por sua vez, acabou não consolidando seu rápido desenvolvimento inicial, e nos dias atuais ele se resume a apenas um belo e pequeno conjunto arquitetônico pertencente ao município de Sacramento, e terra natal do ator Lima Duarte.


Norte de Minas

Conforme já citado, o rio São Francisco, dentro do estado de Minas Gerais, não foi colonizado a partir de sua foz. A subida do rio a partir do Oceano Atlântico foi muito lenta, devido às dificuldades representadas pela vegetação de caatinga e a presença de índios ferozes. Ainda assim, registra-se a chegada de colonizadores, ainda no século XVI, até a cidade de Bom Jesus da Lapa, no sertão baiano. Com a febre da mineração, entretanto, Portugal proibiu qualquer comunicação entre as povoações ribeirinhas da Bahia e a região das minas, com vistas a evitar o contrabando.

Uma exceção a essa regra foi a descoberta de ouro e diamantes na região da atual cidade mineira de Rio Pardo de Minas, a partir de uma expedição vinda da Bahia, que tinha fácil acesso ao litoral através do rio Pardo, cuja foz localiza-se entre as atuais cidades baianas de Porto Seguro e Ilhéus, alguns quilômetros ao norte da foz do rio Jequitinhonha. O escoamento das riquezas, bem como o abastecimento da região mineradora com outros produtos, passou a ser feita também a partir da Bahia, através do rio Pardo.

O rio das Velhas, que passa pela cidade de Sabará e alcança o rio São Francisco próximo à cidade de Pirapora, foi uma importante ligação entre a região mineradora e o norte de Minas Gerais. A busca de ouro e pedras preciosas foi a motivação de importantes expedições à região. Ainda que a busca pelas riquezas se frustrasse, a chegada a regiões férteis levou ao estabelecimento de fazendas, que deram origem a povoações.

Antônio Gonçalves Figueira e Matias Cardoso de Almeida, após alcançarem o rio São Francisco, o seguiram rumo ao norte de Minas e iniciaram a povoação dessa extensa região. Nas cabeceiras do rio Verde Grande, afluente do São Francisco, fundaram a fazenda Montes Claros, que daria origem à cidade. Os dois bandeirantes estiveram também presentes na famosa e já citada expedição de Fernão Dias em busca das riquezas de Sabarabuçu. Matias Cardoso seria homenageado com o nome de uma cidade mineira à margem do rio São Francisco, próxima à divisa com a Bahia, região onde o bandeirante se fixara.

O mesmo Antônio Gonçalves Figueira, no ano de 1704, partindo de Montes Claros, em uma expedição em direção ao nordeste, com o objetivo de chegar à Bahia, acampou às margens do rio São Domingos e mandou erigir um cruzeiro, firmando as bases do lugarejo de Cruz das Almas, que se tornaria a atual cidade de Francisco Sá. Outros municípios da região norte de Minas, como São Romão e Januária, seriam formados a partir de expedições posteriores ao longo do São Francisco.

Outra frente de povoação da região foram os migrantes do Nordeste que entraram na região a partir da Bahia, em busca do ouro, a despeito da proibição oficial. Um exemplo importante foi o caminho traçado no que hoje se tornou a BR-122, formando povoações que se tornaram as atuais cidades de Monte Azul e Porteirinha. A expedição de Antônio Luís dos Passos, também vinda da Bahia, não encontrou ouro, mas grandes jazidas de sal, produto raro e valioso à época, dando origem à cidade de Salinas.

A cidade de Araçuaí tem uma história muito interessante, embora mais recente que as anteriores, datada do início do século XIX. Barqueiros que transportavam mercadorias pelos rios Jequitinhonha e Araçuaí, quando a região já era relativamente bem povoada, utilizavam um porto na confluência desses dois rios como entreposto comercial, levando à formação de um povoado, que teria tudo para prosperar, não fosse por um detalhe: o padre Carlos Pereira Freire de Moura, natural da região, e que depois chegaria a ocupar o cargo de Deputado Provincial, proibiu expressamente o consumo de bebidas alcoólicas e a prostituição na comunidade.

Em face da situação, as mulheres que lá ganhavam a vida, e que tiveram o exercício de sua profissão proibido pelas ordens do padre, tiveram que migrar e foram acolhidas na Fazenda da Boa Vista, localizada às margens do rio Araçuaí, a cerca de 10 quilômetros de distância, de propriedade da senhora Luciana Teixeira (que atualmente dá nome a uma rua na cidade). O local começou a atrair barqueiros e outras pessoas, levando à formação de um novo povoado. Com o tempo, o novo núcleo teve um desenvolvimento muito mais significativo, tornando-se a atual cidade de Araçuaí. A comunidade original é hoje o pequeno povoado de Itira, pertencente ao mesmo município.


Decadência da mineração

Após cerca de um século de intensa exploração de ouro e pedras preciosas, que mudou a história de Minas Gerais, do Brasil e também da Europa, a mineração entrou em decadência no final do século XVIII. Esse declínio teria também enormes impactos na história do Brasil, levando a episódios como a Inconfidência Mineira e, em última análise, à própria independência do Brasil.

O esgotamento das riquezas, ao contrário do que se poderia imaginar, não levou à decadência de Minas Gerais. Raros são os casos de arraiais e vilas que, como aconteceu com o Desemboque, enfrentaram um processo definitivo de esvaziamento após o término da extração de ouro e das pedras preciosas. O fator que salvou a imensa maioria das cidades mineiras é o mesmo que causou tanta dificuldade no início do ciclo do ouro: as enormes distâncias e as dificuldades impostas pela natureza no caminho até as minas.

O acesso à região mineira era tão difícil que exigiu a abertura de caminhos e locais de descanso e abastecimento ao longo de todos os percursos, formando povoados que passaram a viver da agricultura e da pecuária, abastecendo os viajantes e, após algum tempo, passando a ter uma vida própria, praticamente independente da atividade mineradora. O estado de Minas Gerais acabou, dessa forma, construindo uma economia diversificada que, embora vinculada à mineração, passou cada vez mais a não depender dela para prosperar. O maior legado que a mineração deixou para Minas Gerais, portanto, não foi o ouro e os diamantes, uma vez que esses foram enviados, em sua maior parte, para Portugal e para a Inglaterra. O maior legado da mineração para o estado foi algo muito mais valioso: as cidades, a vibrante vida urbana, tão incomum naquela época, e a economia rural necessária para abastecê-la.

A enorme quantidade de povoados que se formou nesse processo, não apenas resultou no estado brasileiro com o maior número de cidades, mas também fez com que Minas Gerais se mantivesse como o estado mais populoso do país ao longo de séculos, exercendo, em consequência, uma enorme influência política nos destinos da nação em várias épocas. Minas Gerais somente seria superado pelo estado de São Paulo, em termos de população, por volta do ano de 1940.


Nordeste de Minas

A região nordeste de Minas teve sua ocupação efetiva em período relativamente recente, devido à ausência de significativas descobertas de metais e pedras preciosas, além de outras razões, como a presença de uma grande barreira de floresta tropical e a presença de tribos indígenas muito hostis. Uma das poucas cidades da região que teve sua formação associada à descoberta de ouro foi Peçanha, no final do século XVIII, a partir de expedições provenientes do Serro.

O nordeste de Minas, inicialmente, era ocupado pelos índios botocudos, que não permitiam a fixação de colonizadores e a navegação pelo rio Doce. A colonização da região teve seu primeiro impulso em 1808, a partir de iniciativa oficial do governo de Dom João VI, visando promover a navegação pelos rios e a consequente colonização. Foram então criadas Divisões Militares, que tinham o intuito de promover uma guerra de extermínio aos índios. Cada divisão era encarregada de um dos rios da região, incluindo o rio Doce, o rio Jequitinhonha, entre outros.

Nos primeiros anos, o principal objetivo foi, de fato, o extermínio. A região foi palco do maior massacre indígena da história do Brasil. Em seguida, passaram a promover a colonização, com a formação de povoados, e a integração de índios pacificados, levando à miscigenação destes com os colonos. Esse processo deu origem a cidades como Governador Valadares e Almenara.

Um fato marcante é a história dos irmãos Teófilo Otoni e Cristiano Otoni, responsáveis por realizações que levaram à fundação de duas cidades mineiras, batizadas com seus nomes, em meados do século XIX. Teófilo Otoni, político influente do Segundo Reinado, chegando a ocupar o cargo de Senador, fundou a cidade que leva seu nome, no nordeste de Minas, em razão da criação da Companhia de Comércio e Navegação do Rio Mucuri. Já Cristiano Otoni, engenheiro responsável pela construção da Estrada de Ferro Dom Pedro II, foi homenageado com o nome de uma estação, próxima a Conselheiro Lafaiete, que daria origem à cidade que leva seu nome.

A Estrada de Ferro D. Pedro II foi construída com o objetivo de interligar as províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Iniciada em 1855 no Rio de Janeiro, a ferrovia alcançou a cidade de São Paulo em 1877 e a cidade de Sabará em 1895. Com a Proclamação da República, passou a se chamar Estrada de Ferro Central do Brasil. Na primeira metade do século XX, foi expandida até Montes Claros e Monte Azul, onde se uniu a outra ferrovia que chegava até Salvador.

Itabira, que, conforme citado, participou da corrida do ouro, foi pioneira na extração de outra riqueza de fundamental importância no desenvolvimento do estado: o minério de ferro. Das primeiras extrações ocorridas na cidade, seguiu-se grandes descobertas na região conhecida como Quadrilátero Ferrífero, província mineral que abrange cidades como Nova Lima, Congonhas, Caeté, Itabira, Itaúna, João Monlevade, Mariana, Ouro Preto, Sabará e Santa Bárbara. A extração do minério também impulsionou o desenvolvimento de cidades como Coronel Fabriciano, Timóteo e Ipatinga, o conhecido Vale do Aço, em razão da construção de usinas siderúrgicas e da Estrada de Ferro Vitória a Minas, destinada ao escoamento do minério.


A nova capital

No ano de 1829, o padre Francisco de Paula Arantes, um dos vigários da Matriz de Nossa Senhora de Boa Viagem de Curral del Rey, o arraial que antecedeu a cidade de Belo Horizonte, em carta à Cúria de Mariana, fez uma incrível profecia sobre o destino daquele pequeno povoado, ao afirmar que Curral del Rey “está situada em campos amenos na extensa planície de uma serra, donde emanam imensas fontes cristalinas e saborosas águas; o clima da região é temperado; a atmosfera é salutar; está circulada de pedras e mais materiais de que se podem fazer soberbos edifícios; a natureza criou este lugar para uma formosa e linda cidade, se algum dia for auxiliada esta lembrança”.

Ouro Preto, com suas estreitas ruas coloniais e cercada por serras, já não tinha condições adequadas para o desenvolvimento de uma grande e moderna cidade digna de ser sede do governo de Minas. A Proclamação da República incentivou acalorados debates sobre a escolha do local da nova capital. Cinco possíveis locais foram sugeridos: Juiz de Fora, Barbacena, Paraúna (hoje um distrito de Conceição do Mato Dentro), Várzea do Marçal (hoje um bairro de São João del Rei) e Curral del Rei. Estava também em jogo, na escolha da nova capital, por um lado, os interesses da emergente riqueza econômica do café do sul e da Zona da Mata, e de outro, a tradicional economia do minério de ferro da região central, herdeira natural da antiga mineração de ouro e pedras preciosas.

Reunidos excepcionalmente em Barbacena (em razão da insegurança na cidade de Ouro Preto, insatisfeita com a iminente perda do status de capital), no dia 17 de dezembro de 1893 os deputados mineiros finalmente decidem por construir a nova capital em Curral del Rei.

O projeto e a construção se estenderam de 1894 a 1897, sob o comando de Aarão Reis e depois de Francisco de Paula Bicalho. Finalmente, em 12 de dezembro de 1897, o Presidente de Minas Gerais Dr. Crispim Jacques Bias Fortes inaugurou a nova capital, em grande solenidade ocorrida na Praça da Liberdade. Inicialmente chamada de Cidade de Minas, no ano de 1901 foi adotado o novo nome de Belo Horizonte.

Para os funcionários públicos que foram para lá transferidos, as ruas extremamente extensas, retas e largas, que os então 10 mil habitantes não eram capazes de preencher, e a ruptura completa com as referências do passado colonial do estado, representavam um enorme contraste com a Ouro Preto à qual estavam acostumados. A cidade moderna e inovadora não cativou todos os gostos, conforme mostram duas citações da pesquisadora Danielle Uchoa Alonso Rodrigues.

Na primeira citação, o poeta Carlos Drummond de Andrade relata em versos seu estranhamento com a cidade: “Por que ruas tão largas? Por que ruas tão retas? Meu passo é torto, foi regulado pelos becos tortos de onde venho. Não sei andar na vastidão simétrica, implacável. Cidade grande é isso?”

A segunda citação se refere a uma curiosa crônica publicada em 1910, segundo a qual um funcionário público conta ao cronista que a falta de becos da nova cidade não lhe permitia esquivar-se de um credor: “Diacho! Nem um beco nesta terra! Ruas largas como não sei o que! Viva o nosso velho Ouro Preto”.

A cidade à frente de seu tempo causou as mesmas estranhezas que outra cidade, Brasília, inaugurada 63 anos depois, e que levou a um desespero ainda maior dos funcionários públicos federais, que tiveram de deixar a Cidade Maravilhosa e migrar para o meio do nada, em pleno Planalto Central. Em ambos os casos, o passar do tempo se encarregou de cativar as novas gerações de moradores.


Etimologia

Os fatos e elementos que marcaram a história dos municípios mineiros são bem representados nos nomes dados a cada um deles. A mineração é lembrada em nomes como Ouro Preto, Ouro Branco, Diamantina, Lavras, Minas Novas, Lagoa Dourada, Turmalina, além do nome do próprio estado. Os bandeirantes são lembrados em nomes como Betim, Mateus Leme, Matias Cardoso, Raposos e Antônio Dias. Outras personalidades importantes do estado são lembradas em nomes como Governador Valadares, Teófilo Otoni, Barbacena, Conselheiro Lafaiete, Tiradentes e Santos Dumont.

Belas e pomposas expressões da língua portuguesa deram nome a cidades como Belo Horizonte, Montes Claros, Poços de Caldas, Pouso Alegre e Boa Esperança. Por outro lado, o tupi, principal língua indígena do Brasil, inspirou nomes como Uberaba, Ipatinga, Ibirité, Sabará e Itabira.

A origem religiosa, originalmente, aparecia em praticamente todos os municípios mais antigos, cujos nomes extensos sempre faziam referência a um santo, geralmente vinculado à data da fundação do povoado ou à devoção particular dos desbravadores. Sabará, por exemplo, chamava-se Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabarabussu.

Com o tempo, os nomes das cidades foram reduzidos, e somente em algumas o elemento religioso permaneceu, como nos casos de Santa Luzia, São Sebastião do Paraíso, São Lourenço e Santa Rita do Sapucaí. Vale destacar que algo semelhante aconteceu com as duas maiores cidades do Brasil. No caso da cidade de São Paulo de Piratininga, o elemento religioso permaneceu. Já no caso da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, não. Em Minas Gerais, são também de origem religiosa nomes como Divinópolis e Três Corações.

Obviamente, em muitos municípios, a etimologia do nome não é tão evidente, e tem uma explicação peculiar. As histórias particulares de muitas cidades mineiras, bem como as origens de seus nomes, estão disponíveis a partir dos links disponíveis nesta página.


Fontes:
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, IBGE, 1958.
Genealogia Paulistana, Luiz Gonzaga da Silva Leme, 1903.