João Sérgio de Andrade

Código: 212919

Nascimento Portugal

Falecimento São Geraldo, MG

 casou-se com Raimunda Maria de Jesus Andrade

Sobrenome Andrade

Cadastrado por Irene.
Parentes próximos Descendentes

Raimunda Maria de Jesus Andrade (Madrinha)

Código: 212920

Nascimento África do Sul

Falecimento São Geraldo, MG

Nome de casada: Raymunda Maria de Jesus Andrade

 casou-se com João Sérgio de Andrade

Nasceu na África.
Chegou ao Brasil com 13 anos

Texto do blog fazendaavelina.blogspot.com
Descendentes de Galdino Andrade e de D. Avelina Ferreira Mota de Andrade
Este texto foi escrito por tio Zezé Luciano para o Luiz Celso, a pedido da Marjorie e seu marido. É um belíssimo relato de parte de nossa história e de dois personagens que muito nos orgulham. É longo, mas vale a pena ler. O "tio Galdino" do texto não é meu pai, mas meu bisavô.



"Descendentes de Galdino Andrade e de D. Avelina Ferreira Mota de Andrade


José Luciano de Andrade e mais três irmãos seus são netos de Raimunda Sérgio de Jesus, casada com o português João Sérgio de Andrade, natural de “Alto Minho”, norte de Portugal.

Minha avó Raimunda que todos os seus netos a chamavam, carinhosamente, de Madrinha, veio da África onde nasceu. Com pouco mais de 10 anos de idade foi pega à laço e arrastada para dentro de um navio negreiro cuja nacionalidade dele, ela não soube informar.

Ela foi encarcerada no porão do navio com outras mulheres, homens e crianças, na maior prosmiscuidade. A travessia do Atlântico levou, seguramente, 120 dias. O navio era à vela impulsionado pelos ventos do oceano. Por duas vezes pararam para abastecimento de água potável e de suprimento verde e asseio do navio.

Madrinha evitava falar da região onde ela teria nascido, não dava detalhes, falava pouco sobre seu pai, mãe e irmãos, e, com seus olhos mergulhados em cintinlantes lágrimas a correr pelas suas faces enrugadas pelo sofrimento, falava de seus parentes guardados no relicário da saudade.

Ela não sabia a data exata de sua chegada ao Brasil. Ela, presumidamente, desembarcou na baía Angra dos Reis, do estado do Rio de Janeiro, longe da fiscalização dos ingleses que combatiam o tráfico negreiro.

Pela sua narração um tanto confusa e imprecisa, Madrinha teria sido vendida em praça pública pela importância de 13 mil réis a um empreiteiro que trabalhava no avançamento da Estrada de Ferro Leopoldina que adentrava a Zona da Mata, do estado de Minas Gerais.

Ainda adolescente, Madrinha passou por diversas mãos de “senhores” ricos e poderosos, na companhia de quem aprendeu cozinhar, lavar, costurar, fiar, e, com a flor do algodão, com qual tecido, fazia suas próprias roupas de uso pessoal.

Um detalhe: Madrinha não bebia café. Ela mesma explicava a razão. Quando ainda menina, ao arrumar a cozinha de seu amo, inavertidamente, tomou uma xícara de café, por essa falta foi surrada a chicote e posta no tronco sem alimento por vários dias.

Por aquele tempo o negro era marcado a ferro em brasa... para sua identificação rápida, em caso de fuga, e, nossa Madrinha não escapou da fúria perversa de seus “senhores”: ela trazia acima de seus seios a marca “JM” feita a ferro em brasa.

Com a idade de vinte e poucos anos, Madrinha foi adquirida pelo português João Sérgio de Andrade que alguns anos depois veio consorciar-se com ela, após a libertação dos escravos pela Princesa Isabel.

Do estado Rio de Janeiro, Madrinha e o português João Sérgio de Andrade, este último atraído pelo vertiginoso progresso de Minas Gerais naquela faixa denominada de Zona da Mata, embrenharam-se à direita da “Central do Brasil” partindo da cidade de Petrópolis rumo ao El Dorado, o fio de ouro, que era rasgado pelo avançamento dos trilhos da estrada de ferro, idealizada pelo ministro Barão de Rio Branco e construída sob a visão do engenheiro aborígine: Barão de São Geraldo, que cedeu seu nome ao Arraial de São Geraldo localizado no pé da Serra do Cipó, obra prima da engenharia nacional, ao tempo de D. Pedro II.

Ali no pé da Serra do Cipó no “Arraial do Conselho” – assim era chamado “São Geraldo – nasceram Galdino Andrade e Avelina Andrade, e no fim da Rua do Quebra, onde está situado o Cemitério Municipal, seus corpos descansam em paz na memória de seus filhos.

Papai e Mamãe tiveram cinco (5) filhos todos nascidos em São Geraldo. O primeiro chamava-se Manoel em homenagem ao “Tio Né” Manoel Ferreira da Mota, veio a falecer nos seus primeiros anos de existência; o segundo de nome Vicente, posteriormente, Dr. Vicente Andrade, médico conceituado, está enterrado em Maringá-PR; o terceiro filho, uma moça: Flávia Andrade, formada, deixou uma prole numerosa, está enterrada em São Geraldo; o quarto (riscado e manuscrito terceiro em cima) o “enfant gaté” da família, com alcunho “Nhônhô” chamava-se Luiz, está sepultado em Maringá, e, o quinto (riscado e manuscrito quarto em cima), por isso o último dos Andrades, tratado com muito carinho: “Tio Zezé”, por ser o último se vê obrigado a escrever (aliás muito mal) a árvore genealógica da família. É isto aí. Não possuo datas dos fatos. A minha fonte de informação sobre eles era a Madrinha que não gostava de falar sobre seu passado.

Meu pai nunca foi escravo, nasceu livre acobertado pela “Lei do Ventre Livre”, este fato constituía para Madrinha a maior benção que Deus havia lhe concedido: a liberdade de seu filho, talvez teria sido a razão de eu nunca ter visto a Madrinha a não ser rezando todas as horas, mesmo trabalhando, isto, em agradecimento a Deus.

O casamento de Madrinha

Veio a libertação dos escravos pela “Lei Áurea” promulgada pela Princesa Isabel filha do Imperador D. Pedro II, mas, Madrinha embora libertada continuou escrava por não ter com quem viver e para onde ir.

Foi quando seu ex-amo João Sérgio de Andrade, diante daquela situação, sugere à Madrinha casar-se com ele; ela acabou aceitando o casamento. Naquele tempo não havia o casamento civil, só o religioso.

Naquele tempo as distâncias diante à agreste mata virgem da região, tornavam-se mais distantes as distâncias entre os povoados e cidades, as dificuldades para vencê-las dependia de tempo.

Em razão destes empecilhos naturais, o casamento religioso, o batismo, o crisma e a realização da santa missa eram fatos raros de acontecer, de quando em quando aparecia um padre ou bispo na região. Os ofícios religiosos eram feitos em mutirão em dias festivos para a comunidade.

Em uma destas festividades católicas em alhures, possivelmente, ocorrida na Zona da Mata de Minas Gerais, uniram-se em matrimônio meu avô Sérgio e Madrinha Raimunda, tornaram-se portadores de um instrumento firmado por um padre e ad referendum da lei do Império.

Nada é mais difícil a alguém do que estabelecer as origens de uma família burguesa brasileira, tentar extrair da botânica das vaidades uma árvore genealógica, sem socorrer-se a hipóteses. E voltando-me ao passado, sem ascendentes meus que pudessem orientar, não me podia sentir em menores dificuldades. Em razão disto, prefiro confessar a ignorância à recorrer à fantasia.

Não sei aonde teria casado Madrinha, não sei a data deste casamento, como também, não sei o nome do padre que teria oficiado o ato religioso e seu local. Temos de valer com o que tenho e que é pouco que nos teriam sido transmitidos pela Madrinha e pelos seus contemporâneos.

Madrinha como pessoa

A Madrinha era uma mulher adorável e portadora de rara inteligência nata. Ela era até bonita. Ela era de tez morena lembrando a cor do metal cobre, de porte a impor autoridade, trazia no seu olhar a expressão de bondade e de ternura. Os seus cabelos não eram carrapichados, eram crespos encanecidos a atestar uma velhice precoce cheia de sofrimento e dor. O seu coração era maior do que seu próprio corpo, nele dava abrigo a todos os infelizes e abandonados.

Ela teve um único filho – meu pai – mas tinha a mania de criar filhos alheios abandonados, criou muitos, inclusive um menino surdo e mudo, que se chama Benjamim. Foi o último a abandonar Madrinha depois de homem feito.

O filho legítimo de Madrinha era a corda de seu coração, nasceu livre, salvou-o da escravidão a “Lei do Ventre Livre” promulgada pela Princesa Isabel, salvo o engano, filha de D. Pedro I; ele teve uma infância como de uma criança qualquer, sob os cuidados e carinho da Madrinha.

Aprendeu a ler, escrever e fazer conta, praticamente, só. Era forte, jovial, de gargalhada franca e sonora que era ouvida à distância.

Papai era muito trabalhador, ambicioso, gostava de ganhar dinheiro e passar bem (comer bem), gostava de casa cheia de amigos ou visistantes.

Papai homem feito, casou na família Ferreira da Mota. Os Ferreiras da Mota eram da classe média, e, muito numerosos, senão vejamos: Luiz Ferreira da Mota, era o patriarca; Agostinho Ferreira da Mota; João Ferreira da Mota (meu avô); Manoel Ferreira da Mota (saudoso Tio Né); Tias Altina, a mais idosa; Analia Ferreira da Mota; Joana Ferreira da Mota; Maria Ferreira da Mota; todas essas senhoras morreram solteironas com mais de 90 anos. Elas eram conhecidas, não obstante suas idades, como “as meninas do Caeté”, ou, como “Tias Velhas”. Caeté era o nome da fazenda onde elas moravam, situada em São Geraldo.

A mãe de minha mãe, casada com João Ferreira da Mota (meu avô), eu não a conheci e nunca me disseram seu nome. Essa senhora morreu de parto ao dar à luz do nascimento de minha mãe.

Minha mãe foi criada pela Tia Altina com ajuda das outras tias, na Fazenda Caeté, situada em São Geraldo ou Curral do Conselho, como também era conhecido São Geraldo.

Meu pai enamorou-se de Mamãe quando trabalhava para os Ferreiras da Mota. O casamento foi do agrado de todos, inclusive da Madrinha, e no dia do casamento todos eram felizes.

Não tenho a data do casamento, só sei que ele foi feito na igreja com efeito civil. Sei também que Papai e Mamãe começaram a vida do nada, e quando ele morreu deixou fortuna.

A morte prematura quão inesperada de Papai desmorona a família dos Andrades. A fortuna dos Andrades ficou sob administração direta do guarda-livros da firma de nome Veriato Corrêa que não tinha tirocínio comercial, passava todo seu tempo contando piadas e trabalhava pouco, vale dizer, não administrava o pequeno império deixado pelo Papai, deixou, por omissão do dever, que o povo roubasse o patrimônio da família Andrade.

Papai faleceu quando cobrava um aluguel a um seu inquilino português de nome Reboleiro, houve uma cerrada discussão com troca de ofensas pessoais, em meio ao bate-boca surge o disparo de arma de fogo, Papai foi atingido no pescoço, disto veio a falecer quase que instantaneamente segurando uma das mãos da Mamãe e deitado no seu colo. Morreu jovem, não tinha 50 anos, morreu no dia 1° de maio de 1916 (Dia do Trabalho). E os Andrades, seus descendentes, estão se acabando (eu sou o último), mas sua memória, no correr dos anos, foi cultuada com o fervor de uma prece.

Nosso pai adorava a cultura em ??? ??? (cópia cortada) tinha planos arrojados para o estudo de seus filhos. O Vicente, seu filho mais velho, seria médico formado na Alemanha; o Luiz (Nhônhô) seria farmacêutico formado em Ouro Preto, MG; a Flavia, sua única filha, estudaria no Colégio Sion em Petrópolis; e, eu o caçula, seria um Doutor.

Por aquele tempo, 1910 a 1920, existia na região da Zona da Mata-MG, um professor famoso de cor negra que portava admirada cultura geral e falava fluentemente o inglês, francês, alemão, italiano, latim e até grego. Esse professor era quem preparava os filhos dos Senhores de Fazenda para ingressarem nas faculdades do Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Belo Horizonte.

Ele era uma pessoa de alto gabarito, chamava-se Prof. Cornélio. Era alto, forte, corpulento, vestia com esmerado gosto. Usava fraque negro, permanente, até nos dias comuns. Sua camisa branca era engomada e passada pela melhor lavadeira local, aí entrava D. Ferminia com suas mãos de Fada.

O assunto em todas as rodas era a Guerra Mundial que campeava solta em toda Europa; quando o Prof. Cornélio discorria sobre a guerra era ouvido com admiração e muito respeito e ninguém ousava contraditá-lo, ele era a “Vaca Vitória” dos contos infantis.

O Prof. Cornélio era pianista de modesto mérito; mesmo assim, era muito admirado e aplaudido nos saraus em família, onde só tocava músicas clássicas: Mozart, Bethoven, Bach, e as valsas austríacas muito em moda.

Eu era levado pelo Papai sob a promessa de não fazer barulho na reunião, e permanecia sentado nos joelhos de papai até ser vencido pelo sono. E quando ainda aceso (acordado) acabei implicando com aquela sobra de pano que descia bunda-abaixo do fraque do professor, e, ao sentar na banqueta do piano ele com muita elegância fazia um movimento com as mãos, deixando fora da banqueta aquela sobra de pano que compunha o fraque. Aquela mesura para mim era o máximo.

Papai tinha grandes amigos na alta esfera social. Ele foi amigo pessoal do Pres. de Minas Gerais, Dr. Raul Soares, por diversas vezes era seu hóspede quando de suas andanças pela Zona da Mata; Dr. Arthur Bernardes, ex-presidente da República visistava nossa casa, embora, Papai houvesse morrido; Conde Avelar, grande exportador de café, era amigo do Papai, havia entre eles troca de presentes e assídua correspondência, a sede de sua firma era na Rua da Quitanda, do Rio de Janeiro. Papai era muito popular e estimado pelo povo.

Como já se disse, Papai morreu em 1° de Maio de 1916 em São Geraldo e está enterrado no Cemitério Municipal de São Geraldo, no segundo jazigo do lado esquerdo de quem entra, campa revestida de mármore róseo branco com diversas gavetas prontas para receber os descendentes do Papai. Naquela sepultura dormem com Papai o sono da eternidade sua mãe, a nossa inesquecível e adorada Madrinha Raimunda, e nossa querida mãe Avelina que criou os filhos de Galdino Andrade, dando a cada um de seus filhos um diploma de curso superior, preparando-os para servir a Pátria e a Deus.

Luiz Celso, fico por aqui. Espero ter concorrido de alguma forma para o êxito do livro que seu genro propõe escrever sobre os Andrades. Eu continuo lutando com doença, primeiramente, sua tia Yvonne extraiu o 5° câncer maligno, graças a Deus está forte e conformada.

Eu estive 30 dias acamado com uma violenta ciática na perna direita. Ela me deixou com as pernas bambas, estou caindo à semelhança de um burro velho, amanhã inicio tratamento de recuperação.

Eu me despeço de toda sua família. Um abraço a todos, inclusive minha benção à Raquel, abraços as suas irmãs. Aqui fica o Tio Zezé, abençoando-o afetuosamente.

Luciano (assinatura manuscrita)

Um. 22/04/93 (Umuarama)
Obs: Você arranje um datilógrafo e passe isto a limpo e corrija as “gaffes”. Ob. Luciano (obs. manuscrita)".

Sobrenome Andrade
Sobrenome Jesus

Cadastrada por Irene.
Parentes próximos Descendentes

Filhos do casal:
Galdino Andrade (1873 - 1916)Benjamim (? - ?)