David Benedicto Ottoni

Código: 3685

Nascimento Teófilo Otoni, MG, 14 abr 1857

Falecimento Poços de Caldas, MG, 15 mai 1925

 casou-se com Maria Luiza Bezerra Monteiro

Irmãos:
Jorge Ottoni
Teófilo Benedito Ottoni

É interessante a história o primeiro Prefeito de Poços de Caldas, o Dr. David Benedicto Ottoni.
Filho de família ilustre, tendo como pais Augusto Benedicto Ottoni e Maria Carlota Ottoni (nascida Vieira de Pina), nasce David aos 14 de abril de 1857, na antiga Filadélfia, hoje Teófilo Otoni.
A cidade que se formava às margens do rio Mucuri tinha, em seu pai Augusto e seu tio Theóphilo, conhecido como "O Senador do Povo", os seus fundadores.
Seu pai e seu tio, naturais de Vila do Príncipe, mais tarde Serro, também em Minas Gerais, sonhavam já àquela época com um porto para Minas, na região de Caravelas, justo na foz do rio Mucuri. Era essa a forma de livrar Minas da Alfândega do Rio de Janeiro e escoar os produtos agropecuários da região e importar máquinas trazendo o progresso para aquele território esquecido.
Nessa empreitada, os irmãos Ottoni contratam dois mil agricultores alemães, italianos, chineses, belgas, portugueses, franceses, suíços, e holandeses.
É neste ambiente progressista e eclétíco que David passa os primeiros anos de sua vida e, talvez por isso, é marcado para sempre na direção de abrir seus horizontes e seus conhecimentos.
Motivos políticos determinam a volta do tio Theóphilo à vida pública no Rio de Janeiro e Augusto decide também, dirigir-se àquela cidade com a finalidade de cuidar da educação de seus três filhos: Jorge (que se toma engenheiro), David (futuro médico e o primeiro Prefeito de Poços de Caldas), e Theóphilo (também futuro engenheiro).
Antes da mudança para o Rio de Janeiro, retomou Augusto ao Serro, acompanhado a família, no intuito de despedir-se de sua mãe. Era o ano de 1868 e contava David 11 anos de idade.
Encontrava-se o Serro nesta época, movimentada por tropas que vinham de toda parte. Umas vinham do Rio, conduzindo mercadorias para os negociantes locais, outras atravessavam a cidade em demanda de outros pontos ao norte.
Augusto observa o intenso comércio de compra e venda de diamantes que há na cidade e decide experimentar esse comércio.
O sucesso é maior que o esperado e Augusto estabelece-se na cidade com um negócio baseado em freqüentes viagens à Capital onde vende os diamantes comprados no Serro e retoma com gêneros que ali são comercializados.
O negócio prospera e mantém Augusto no local, enquanto seus filhos são enviados à Corte com a finalidade de concluírem os estudos.
Resolvido a juntar-se aos filhos no Rio de Janeiro, faz Augusto uma última viagem, realizando pesado investimento na compra e venda de um grande lote de diamantes que pretende revender no Rio de Janeiro e lá estabelecer novo negócio.
Nos dias que se seguem, corre a notícia que enormes depósitos de diamantes são descobertos em Kimberley, África do Sul, levando à queda violenta dos preços da mercadoria nacional.
Isto faz com que Augusto tenha um grande prejuízo e fique sem condições de manter David estudando no Rio de Janeiro.
Graças à interferência do tio Christiano Ottoni, consegue uma bolsa de estudos para David, no conceituado Colégio São Bento.
Em 1872, grassa a febre amarela no Rio de Janeiro e David contrai a moléstia, sendo obrigado a interromper seus estudos indo morar com duas tias solteiras.
Após o restabelecimento, continua David seus preparatórios ao curso medico, num dos mais notáveis colégios daquele tempo, o afamado Colégio Victório.
Em 1874, com apenas l7 anos, matricula-se no Curso de Medicina.
Passa, ainda, por grandes dificuldades financeiras e consegue com amigos trabalhar na "Gazeta de Notícias", onde tem por companheiros José do Patrocínio, Demerval da Fonseca e Américo Luz.
Trabalha na "Gazeta" até 1879 tendo, a partir do ano de 1876, acumulado o trabalho o jornal com o de interno no Hospital da Misericórdia.
As condições sanitárias do rio encontram-se péssimas e David presta um grande serviço durante as epidemias de febre amarela e varíola que se abatem na cidade, nos anos de 1877 a 1879.
Ao fim do ano de 1879, com 22 anos, forma-se em Medicina, obtendo distinção em sua tese de doutoramento.
O ano de 1880 encontra David trabalhando como médico em fazendas de Carangola, Minas, onde fica por um ano e onde consegue fazer boas economias.
Seu pai recupera-se financeiramente e transfere-se pára o Rio de Janeiro (onde morreria aos 94 anos de idade).
Em dezembro de 1880, decide David continuar seus estudos na Europa. Tais estudos têm início em maio de 1881 e, enquanto não parte, começa a clinicar em Juiz de Fora recebendo o apoio de seu colega João Nogueira Penido.
Chegada a hora da partida, não se sensibiliza com os apelos do colega Penido para que fique e mantenha a extensa clínica que, em tão pouco tempo, havia conseguido formar.
Toma um vapor no Rio com destino à Europa, desembarca em Lisboa e parte com destino a Paris, onde começa seus estudos de especialização em Oftalmologia -ou, moléstia dos olhos, como era então chamada.
Passa três anos estudando em Paris, Viena, Heideiberg e Londres. Toma-se um dos primeiros médicos brasileiros com especialização em Oftalmologia.
De volta ao Brasil, decide percorrer seu interior, levando seus conhecimentos aos pontos mais distantes. Visita e clinica em Ubá, Cataguases, São João Dei Rei, São Geraldo, Viçosa, Ponte Nova, Barra Longa, Mariana e Ouro Preto, em Minas Gerais. Daí passa ao estado de São Paulo, visitando as cidades de Sacramento, Franca, Batatais, Ribeirão Preto, São Simão, Casa Branca, Mogi-Guaçú, Mogi-Mirim, Jundiaí, Piracicaba, Campinas, Santos e Sorocaba.
Partindo para o sul do país, visita o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estando, entre outras cidades, em Pelotas, Bagé e Piratini (antiga capital da República dos Farrapos e futura Porto Alegre).
Monta sua base no Rio de Janeiro e dali parte em incursões por todo o país, inclusive indo à Argentina, Uruguai e Paraguai.
Volta mais tarde para o Rio, desmonta seu consultório e segue para o Norte. Visita o Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Em incursão ao Ceará, conhece no Crato, Maria Luiza Bezerra Monteiro, sua paciente, filha do fazendeiro Capitão José Geraldo Bezerra Monteiro e Dona Luiza Collares Bezerra.
Iniciava-se aí o ano de 1893 e, em 20 de maio casa-se com Maria Luiza; tinha ele 36 anos e ela 22. Dois meses depois inicia sua volta ao Rio de Janeiro, partindo do Ceará, para onde nunca mais sua esposa retomaria.
Novamente estabelecido no Rio de Janeiro, onde reabre sua clínica, progride cada vez mais. Mas, o destino faz com que novamente deixe o Rio.
Em setembro de 1893, a revolta dos Almirantes Custódio de Melo e Saldanha da Gama contra Floriano Peixoto ameaça a paz da cidade. Maria Luiza está grávida e, devido à confusão que se toma o Rio de Janeiro, dedicem partir em direção a São Paulo.
Durante a viagem, a caminho de São Paulo, em Guaratinguetá são obrigados a paralisar a viagem devido ao nascimento do primogénito, em 11 de março de 1894. Ali são recebidos pelo primo Homero. Em sua homenagem a ele dão à criança o seu nome.
Convidado a operar um ilustre fazendeiro da região de São João da Boa Vista, compra ali uma residência e, nesta cidade, aos 10 de maio de 1895, nasce sua filha Luiza.
A pequena Liliza tem saúde frágil e sua asma motiva visitas constantes à vizinha Poços de Caldas para tratamento. Tais viagens se tomam rotineiras, levando a ao surgimento de uma clínica nesta cidade, o que motiva uma nova e definitiva mudança.
Chega finalmente ao seu destino e onde deixaria suas raízes.
Em Poços de Caldas nascem Augusto(falecido na infância), Zulmira, Elvira, David (que se toma também Prefeito Municipal no período 1959/1962) e Maurício. A casa que projeta e constrói completou em 1997 um século e, ainda hoje pertence à família, localizando-se à Rua da Saúde, hoje Rua Minas Gerais, 413.
Não por acaso, o Dr. Ottoni, como era conhecido, passa a participar da vida pública de Poços de Caldas. Seus conhecimentos do mundo e da realidade brasileira de então, obtidos através dos anos passados na Europa e das inúmeras incursões ao enorme território brasileiro que percorrera exercendo uma medicina rara e especializada como era a Oftalmologia àquela época, dão a ele um poder de prever, sem igual.
Em sucessivos artigos publicados na "Revista de Poços", assina uma coluna muito adequadamente chamada “Em Prol de Poços”.
Lá estão registradas suas impressões e recomendações sobre os mais variados temas: o alerta à necessidade do tratamento das águas a serem servidas à população; a recomendação à preservação dos mananciais de águas através da manutenção das florestas; o alerta à necessidade de um sistema de esgoto e de manejamento adequado do lixo; a importância da implantação de um complexo turístico na cidade, onde alertava porém, da necessidade de diversificação de empreendimento.
Na área agrícola torna-se adepto da importação de matrizes importadas para a melhoria dos rebanhos; prega a imigração estrangeira para Poços, citando como exemplo o desenvolvimento que a família Maywaid havia trazido para as videiras da região.
Já àquela época defende a privatização quando cita os benefícios a serem obtidos se certos serviços públicos, forem feitos por associações particulares. No campo do ensino prega maior investimento para escolas e uma melhor remuneração para o professorado.
Técnicas de administração pública e acompanhamento estatístico também são recomendadas. Tem a coragem de enfrentar os poderosos donos da terra, quando defende uma justa desapropriação das mesmas para implantação de vias de acesso para escoamento de produtos agrícolas, da construção de avenidas e parques na cidade e da vinda de agricultores brasileiros e estrangeiros desejosos de se estabelecerem no local. Em 1905 antevê uma Poços de Caldas com uma população de 300.000 habitantes.
Havendo já ocupado diversos cargos na comunidade (Juiz de Paz, Vereador, Presidente da Câmara Municipal e Presidente do Conselho Deliberativo), por incumbência do Governo do Estado, instala a Prefeitura Municipal em 03 de Janeiro de 1905, exercendo interinamente o cargo de Prefeito.
É ainda, responsável pela melhoria do Plano da Cidade, organizado pelo engenheiro Pedro Luís Taulois em 1872, incluindo avenidas e parques e, ampliando o perímetro da cidade. São de sua responsabilidade a implantação da Av. Francisco Salles e os projetos das avenidas João Pinheiro e do Contorno (inaugurada recentemente).
Por motivo de saúde afasta-se da vida pública, de sua Clínica e recolhe-se ao lar. David Benedicto Ottoni falece em 15 de maio de 1925, aos 68 anos de idade. Sua esposa Maria Luiza lhe sobrevive até aos 82 anos, falecendo em 1960.
De sua descendência cada um teve seu destino: Homero casa-se com Maria José de Araújo Dias, de família da região; forma-se em engenharia e faz carreira brilhante em São Paulo, onde vem a falecer em 1969, com 75 anos de idade. Liliza não se casa e vive em Poços até sua morte, aos 84 anos, em 1979. Zulmira casa-se com o advogado belo-horizontino Fábio Teixeira Coelho, primeiro juiz municipal de Poços de Caldas, fica viúva aos 30 anos, deixando diversos descendentes, alguns deles ainda em Poços de Caldas. Falece aos 86 anos, em 1985. Elvira casa-se com membro de família de Jaú-S.P, Domingos
Ferreira do Amaral, e ainda hoje, aos 95 anos vive naquela cidade junto aos seus descendentes. David casa-se com Mariana Carvalho Dias de tradicional família de Poços e, aos 94 anos, vive na cidade com seus descendentes. Maurício, advogado, casa-se com Alice Montenegro e faz carreira em São Paulo, onde falece aos 68 anos, em 1972.
David Benedicto Ottoni e Maria Luiza Monteiro Ottoni tiveram 7 filhos, 18 netos, 38 bisnetos, 34 trinetos e, por enquanto, 3 tetranetos.
Tenho a honra de ser avô do mais jovem tetraneto de David, Thiago Ottoni Penido.

Sobrenome Ottoni

Fonte: texto de autoria de Flávio Penido Ottoni, publicado originalmente no Jornal de Poços de Caldas - MG em 1998 e extraído do site da Sociedade Brasileira de História da Medicina - www.sbhm.org.br
Árvore genealógica Parentes próximos Descendentes Famílias às quais pertence Galeria de fotos

Maria Luiza Bezerra Monteiro

Código: 3688

Nascimento 1878

Falecimento 1960

 casou-se com David Benedicto Ottoni

Sobrenome Bezerra
Sobrenome Monteiro

Fonte: texto de autoria de Flávio Penido Ottoni extraído do site da Sociedade Brasileira de História da Medicina - www.sbhm.org.br
Árvore genealógica Parentes próximos Descendentes Famílias às quais pertence
Casaram-se em Crato, CE, em 20 mai 1893.

Filhos do casal:
Homero Ottoni (1894 - 1969)Liliza Ottoni (1895 - 1979)
Zulmira Ottoni (1899 - 1985)Elvira Ottoni (1903)
Maurício Ottoni (1904 - 1972)David Ottoni (1904)
Augusto Ottoni (? - ?)